Por Daniel Debiazzi Neto -Setembro, 2023

Administrando o Otimismo

.......Entrando na fase final do ano, com o seu último bimestre já em curso, as iniciativas para as projeções do que esperar para 2024 se intensificam e os exercícios para as configurações dos orçamentos das empresas começam a ser refinados a partir dos cenários e suas perspectivas. Desconsiderando as variáveis externas em função da grande imprevisibilidade de seus reais impactos - problemas geopolíticos e de conflitos - e capazes de promover alterações substanciais em praticamente toda a economia, um olhar mais detalhado sobre o que se passa na realidade política e econômica nacional é imprescindível para se ter mais segurança nas previsões dos diferentes setores produtivos.

.......O setor de agregados, na base da cadeia da construção, acompanha par e passo a construção civil e infraestrutura, delas retirando indicadores para configurar seus cenários de operações, indicadores esses que estão assentados num perfil de otimismo desde o início da malfadada pandemia de Covid- 19. Superado o grande impacto da confirmação do primeiro caso no país – ainda no final de fevereiro de 2020, quando os gestores das empresas conjecturaram um cenário catastrófico de paralisação das atividades produtivas, o setor de agregados caminhou na direção oposta, acompanhando vis-à-vis a indústria de construção, produzindo e comercializando seus produtos em volumes com números crescentes desde então. Terão sido, ao final destes quatro anos iniciados pela pandemia de triste memória, anos de superação e revés ao pessimismo que se assenta na baixa capacidade de investimentos do setor público, das desconfianças nas materializações das parcerias públicas privadas esperadas – as PPPs – e da onipresente insegurança jurídica que compõe e permeia muitas iniciativas de investimentos.

.......Restringindo-nos ao Estado de São Paulo, constatamos que ao final deste ano terão sido consumidos algo em torno de 65 milhões de toneladas apenas de pedra britada, 32 milhões de toneladas apenas na RMSP, 10% acima do que foi comercializado em 2022 e realizando estimadamente 2,6 milhões de viagens de caminhões. Soma-se a esse número os de comercialização de areia, estimados em mais de 100 milhões de toneladas. São números muito expressivos e que só encontram similaridade com aqueles do já longínquo 2014, quando se fechou o ciclo virtuoso anterior e que antecedeu a grande depressão que se deu até 2019.

.......Olhar para 2024, agora, parece ser inevitável não o ver com um viés de otimismo. Avaliações feitas pelo DECONCIC-FIESP mostram que o governo do Estado de São Paulo está propondo Projeto de Lei Orçamentária Anual – PLOA 2024 de R$328 bilhões, sendo R$9,1 bilhões em investimentos, distribuídos pelas secretarias de Desenvolvimento Urbano e Habitação, Infraestrutura e Logística e Transportes Metropolitanos, nas quais têm origem muitos projetos que levam ao consumo de agregados. Também a prefeitura de São Paulo prevê um orçamento de R$110,7 bilhões, dos quais se prevê que R$16,7 bilhões sejam direcionados a investimentos. Na avaliação do DECONCIC, o efeito dos programas e aportes públicos federais, estaduais e municipais, é de aumentar o número de obras de edificações e infraestrutura, o que implica em alto consumo de agregados para construção.

.......Esses indicadores estão ainda reforçados pelas constatações de crescimentos verificados no segmento de concreto (estimado em 5% neste ano e 7% para o próximo), que produziu algo em torno de 20 milhões de m3 no Estado de São Paulo e de cimento com projeção de 2% de crescimento. Também o amplo programa de pavimentação asfáltica (investimentos de R$2 bilhões) da Prefeitura de São Paulo, os investimentos das concessionárias de rodovias - já anunciados, mostram obras com investimentos previstos de R$1,2 bilhão – bem como obras distribuídas por 39 cidades da Região Metropolitana de São Paulo (investimentos de R$1,96 bilhão) e outras tantas no Vale do Paraíba, Baixada Santista e região de Campinas, mostram que 2024 deve exigir elevado nível de produção e comercialização do setor de agregados.

.......Resta administrar e conter o otimismo que os números anunciados estimulam e evidenciam, esperando que se materializem, trazendo melhorias de infraestrutura e contribuindo para diminuir o déficit habitacional do país. Mas não se pode esquecer que no final do período virtuoso anterior – encerrado em 2014 - muitos investimentos foram feitos na ampliação da capacidade produtiva instalada dos empreendimentos de agregados e que até hoje são subutilizados.