Fotos: Arquivo pessoal

Gente em Foco - Júlio & Júlio A pedreira em destaque

.......Quando alguém não familiarizado com a atividade de mineração pensa em uma pedreira, a reflexão não é exatamente aquela que empreendedores gostariam que fosse vista. O olhar certamente traduzirá se tratar de uma escavação de grandes dimensões gerada em decorrência do bem mineral retirado do local. O impacto da impressão à primeira vista inexoravelmente remete à conclusão de que a exploração é um ato transformador, com poder de alterar a paisagem definitivamente. As atividades humanas promovem modificações no meio ambiente, inevitavelmente, quaisquer que sejam, mas esse primeiro olhar pode ser transformado e modificado tanto pela compreensão dos benefícios trazidos pela utilização do bem mineral quanto pelos cuidados e técnicas utilizadas na sua exploração.

.......A pedreira Julio & Julio, localizada em Sorocaba é um daqueles empreendimentos que permite a transformação desse primeiro olhar para a atividade. Em operação há mais de 50 anos, fornece pedra britada e subprodutos para o desenvolvimento da região com um modelo de operação que merece destaque. A mina, operada dentro de uma fazenda com criações de galinha, gado, avestruz, patos e plantações de hortaliças e frutas, paradoxalmente não destoa da paisagem. Para compreender tudo isso, vimos convidá-lo a ler a nossa entrevista com o seu administrador, Ricardo Betti Bonadia, engenheiro civil e pós-graduado em Gestão Industrial, que já trabalha há dez anos na empresa, representando a terceira geração da família à frente do empreendimento.

.......Revista Agregados SP: Como se deu o início das atividades da empresa?

....... Ricardo: A empresa foi fundada na década de 50, mas antes a família atuava no ramo da construção civil. O grupo iniciou suas atividades com a Construtora fazendo obras de terraplanagem e pavimentação, anos depois foram iniciadas as atividades da pedreira e usinas (asfalto, solos e concreto), produtos para a construção civil e terraplanagem pensando no consumo próprio, mas posteriormente passou a comercializa-los para o mercado. No decorrer do tempo as empresas conseguiram ser independentes e hoje temos negócios e gestões distintas. Evoluímos em equipamentos com boas marcas e referências de mercado. O meu pai, Orlando Bonadia Junior, sempre acompanhou de perto a produção da pedreira, ligado às novidades/tecnologias para sermos mais eficientes do que a concorrência. O Grupo Julio & Julio participou do crescimento de Sorocaba executando e implantando as principais avenidas, bairros, estradas e condomínios da cidade e, conforme a cidade foi crescendo, a empresa cresceu também. Seus produtos são destinados às edificações de residências, ruas, prédios e todo tipo de infraestrutura da região. A brita está envolvida em quase tudo na construção civil. Um de nossos diferenciais é a expedição, que se destaca por ser muito rápida, com agilidade e investimento em equipamentos para otimizar o tempo. Estamos a 4 km do centro de Sorocaba e dentro de uma área de mais de 1.600.000 m².

.......Revista Agregados SP: Como se deu seu envolvimento profissional na empresa?

....... Ricardo: Sou engenheiro civil e a minha ideia era construir casas e prédios. Trabalhei num laboratório de controle de qualidade de materiais para construção civil, também fui estagiário da MRV e, ao sair de lá, pedi para o meu pai uma oportunidade para ficar na Julio & Julio observando as atividades, sem carteira assinada e sem remuneração. No início observei as obras que a empresa desenvolvia na área de pavimentação e quando fiquei mais próximo das atividades da empresa surgiu a ideia de ajudar sem compromisso, dentro de um nível simples e veio a vaga de estagiário na Julio & Julio. Em 2014 meu pai saiu de férias e um colaborador da equipe dele, na pedreira, pediu apoio para resolver uma questão e - quando eu fui atrás da solução - observei a mineração como um todo, despertando o interesse sobre o setor de agregados. Quando meu pai voltou das férias, fiz um mapeamento familiar e apresentei o meu plano de carreira, ele conversou com os sócios e passei a responder pelas suas operações no mesmo ano. Em 2016 tivemos uma mudança importante na gestão da empresa, onde buscamos aperfeiçoar e profissionalizar a gestão da Júlio & Júlio. Desde então passei a não trabalhar diretamente com a família, limitando-me apenas a participar de reuniões estratégicas no Conselho Administrativo. Eu tive a sorte de trabalhar com duas gerações anteriores e isso foi uma base para seguir o meu caminho.

Fotos: Arquivo pessoal

.......Revista Agregados SP: A pedreira vem de gerações anteriores familiares. Qual é o principal legado que permanece?

....... Ricardo: O que herdei da família: valorizamos o nosso time! Algo que aprendi com o meu pai e avô é que precisamos valorizar os nossos colaboradores, não jogamos sozinhos. Respeito e humildade são os valores básicos aqui dentro. Fazemos parte do time e não temos diferenciações entre nós. Aqui é uma empresa que gera resultado. Meu negócio não é só número e sim produzir um produto de alta qualidade, com um excelente atendimento, gostamos de ir até o cliente, conversar e ter um relacionamento mais próximo. A nossa equipe de vendas, é o nosso rosto no mercado.

Fotos: Arquivo pessoal

.......Revista Agregados SP: Qual é a maior dificuldade para manter a participação familiar no negócio?

....... Ricardo: Ao longo do tempo, com o passar das gerações a família vai crescendo e é natural que alguns tenham interesse em agregar valor na empresa e outros não. Mas o importante é não confundir acionista com colaborador. Se você é um herdeiro da família não necessariamente você deve trabalhar na empresa. É claro que se houver interesse e capacidade para fazer o negócio gerar mais resultado, a família tem um espaço, mas o que temos hoje são pessoas prontas para gerar resultado, não necessariamente sendo da família. Com essa visão, a tendência é de que a participação de membros da família diminua e aí está o desafio em não deixar a nossa tradição se perder. Conscientizar nossa equipe da nossa tradição, nossos valores e nossa essência é uma atitude que não pode se perder pois isso é a chave do nosso sucesso.

Fotos: Arquivo pessoal

.......Revista Agregados SP: Qual é a capacidade de produção da pedreira, produtos comercializados e número de funcionários?

....... Ricardo: 120 mil t/mês (com turno estendido). Pedrisco, pedra 1, 2, 3, e 4, rachão, bica corrida, macadame, areia de brita, BGS-Brita Graduada Simples e BGTC – Brita Graduada Tratada com Cimento, são os produtos principais. Temos ainda usinas de asfalto em operação na mesma área da pedreira. Somos em 80 colaboradores aproximadamente, no entanto em alguns negócios do grupo trabalhamos com equipes terceirizadas, podendo chegar a uma quantidade bem maior de pessoas envolvidas.

.......Revista Agregados SP: Poderia explicar como é feito o controle de qualidade dos produtos e os ensaios tecnológicos diários?

....... Ricardo: Temos uma equipe altamente capacitada com formações técnicas e superiores, para controlarmos e desenvolvermos novos traços e novos produtos. Os ensaios são realizados diariamente e têm como objetivo manter um padrão de qualidade dos produtos.

.......Revista Agregados SP: Quais são as regiões que a pedreira atende?

....... Ricardo: A pedreira atende uma região compreendida num raio de 80 km, abrangendo Sorocaba, São Roque, Itapetininga, Alumínio, Brigadeiro Tobias, Piedade, Salto de Pirapora, Votorantim, Mairinque, Itu, Porto Feliz, Tatuí, Alambari, Sarapuí, Araçoiaba da Serra, Pilar do Sul, São Miguel Arcanjo, Barueri, Araçariguama, Tietê e Indaiatuba.

.......Revista Agregados SP: A empresa faz parte do Movimento Responsabilidade de Peso? O que acha do MRP?

....... Ricardo: Sim, apoiamos o MRP. Nosso objetivo é, inclusive, o de atingir outros setores, não apenas dos agregados, mas todo o setor de transporte, para que as cidades e rodovias não sejam prejudicadas pelos inúmeros efeitos adversos do excesso de peso, onde o desgaste prematuro do pavimento é apenas um deles. Buscamos também sensibilizar todos os setores da importância em trafegar dentro do limite legal de peso, melhorias nas vias de acesso e qualidade de trafego na região. Acho extremamente importante o MRP, os associados do Sindipedras deveriam pensar numa maneira de destacar a importância do Movimento. O Sindipedras não é fiscalizador, mas poderia reforçar e ajudar na fiscalização com apoio de órgãos públicos, atuando no próprio setor público para que este faça essa fiscalização de forma mais eficiente. Essa fiscalização não deveria estar restrita apenas às operações com balança nas rodovias e sim pensar em como promover ações dentro dos municípios, com mais fiscalização e conscientização.

.......Revista Agregados SP: Como a empresa pode ajudar mais o MRP?

....... Ricardo: Com a conscientização de outros setores. Ressaltando a segurança, a qualidade de trafegar dentro do limite e fiscalização dentro no município.

.......Revista Agregados SP: Qual é a sua visão para a mineração de agregados do futuro?

....... Ricardo: Gostaria que a população tivesse um conhecimento melhor do que a gente faz. Estamos explorando um bem mineral para a nossa necessidade do dia-a-dia, uma mineração de portas abertas para a sociedade. Somos por vezes um setor que demora um pouco mais para fazer uso de tecnologia mais recente (parece que as coisas demoram para chegar até nós – sensores, controle de máquina remota, caminhão autônomo, etc.). Os empresários do setor precisam investir mais em tecnologia, otimização de tempo e poucas pedreiras seguem esta linha e muitos usam o mesmo método há 50 anos. A sustentabilidade da operação tem que ser algo natural da empresa e não uma obrigação.

.......Revista Agregados SP: Quais são as suas maiores dificuldades operacionais e extra operacionais?

....... Ricardo: Na área operacional eu gostaria de mudar o carregamento e expedição com transportadora automática, de forma que essa operação seja mais rápida e organizada. Dedicar mais tempo para me aproximar dos colaboradores é uma meta pessoal.

.......Revista Agregados SP: Como é a preparação da empresa para as crescentes exigências de operação e competição no mercado?

....... Ricardo: Somos familiarizados com benchmarking, entendemos que a concorrência é sempre sadia pois sempre nos obriga a não ficar na zona de conforto. Sempre é possível melhorar e a concorrência vai existir sempre em qualquer lugar, é questão de tempo. Não deve ser uma preocupação, mas sim uma solução para melhorar cada vez mais. Estamos sempre envolvidos em feiras, palestras, cursos, visitas à fábricas, etc.

.......Revista Agregados SP: Gostaria de citar algo que eu não tenha perguntado?

....... Ricardo: Estamos preparados para uma retomada do mercado. Esse período de baixa demanda nos deu a oportunidade de fazermos a lição de casa, reduzindo custos e melhorando nossos indicadores e performance. Aprendi ainda que isso deve ser feito sempre, até em períodos melhores. Acreditamos numa melhora de mercado por diversos motivos, inclusive pelas baixas taxas de juros (compra e venda). Não tivemos nenhum caso da COVID-19 e raramente temos acidentes na empresa.