Por Daniel Debiazzi Neto -Março, 2021

A pandemia e a dança dos números

....... A vida transcorria com todas as manifestações do que até então era visto como um cenário de normalidade quando, em 28.01.20, uma terça-feira, o jornal “O Estado de S.Paulo” vem estampar na sua primeira página a manchete “Risco de epidemia global aumenta e derruba as bolsas”. Logo abaixo do texto, uma foto mostra uma rua deserta de Pequim, vazia em plena segunda-feira. Na sequência se lia que em “Wuhan, epicentro do coronavirus, 5 milhões dos 11 milhões de habitantes deixaram a cidade.” Afirmava-se então que o Brasil não tinha infecções suspeitas, fato já desmentido no dia seguinte, quando também na primeira página constava que o “Brasil tem 3 casos suspeitos; empresas cancelam viagens”.

.......Nesse cenário nasciam as projeções para o ano e erros nos números de desempenho de qualquer setor são compreensíveis diante desse panorama de profundas incertezas e situações de adversidade. Da complexidade vislumbrada na área da saúde pública somava-se aquela onipresente da política nacional, escancarando perspectivas de reformas administrativa e tributária que nunca se materializam. Nestes dois últimos anos, na área da indústria da construção, os números se comportaram como se tivessem vida e iniciativas próprias. No setor de cimento, por exemplo, que antes da pandemia – em 2020 - se projetava crescimento de 3%, logo em abril foi revisto para -7% e fechou o ano em surpreendentes 11%. Em 2021 o setor cimenteiro projetou crescimento de 1% diante das dúvidas sobre a retomada da atividade econômica, mas no fechamento do 1° trimestre já apresentou crescimento de 19% comparando com o mesmo período do ano anterior.

.......No setor de agregados, naquele momento de pré-pandemia - e da sua efetiva chegada - se vivia uma outra onda, a primeira de recuperação depois do longo período de queda de produção e comercialização que se iniciara em 2014. O segundo semestre de 2019 mostrava um crescimento de 7% no volume de vendas em relação ao mesmo período do ano anterior e se percebia pelos números acumulados a cada mês uma real ascensão, que chegava ao primeiro bimestre de 2020 de forma consistente, contrariando até o fraco movimento que se tem nos dois meses iniciais do ano. Num primeiro momento, a epidemia anunciada em final de janeiro, alimentada em fevereiro, foi escancarada em março e as incertezas todas lançaram ares de tempestade sobre o setor produtivo.

.......No entanto, março de 2020, ao ser fechado, dizimou a lógica daqueles que pregavam revisões de orçamentos, cortes de produção, redução de atividades, férias coletivas e outras medidas mais severas para ultrapassar o novo longo período de crise anunciada. Na Região Metropolitana de São Paulo, onde os números levantados pelo Sindipedras são precisos e consistentes, o volume comercializado foi 32% maior do que aquele realizado no mesmo mês de 2019, um número descomunal tendo a base de referência um período inteiramente sem pandemia. Ainda que parecendo casual naquele momento, os números seguiram firmes, contrariando a lógica de uma depressão inevitável.

.......A indústria da construção crescia e o setor de pedra britada fechou 2020 com um crescimento consistente de 16,4%. Para 2021, prevalecendo um certo viés de comedimento, se projetou um crescimento pequeno, mas fechado o primeiro semestre se deparou com um novo crescimento, agora de 9,2% sobre o mesmo período de 2020. Esse fato, acrescido a outro - o segundo semestre traz sempre um movimento maior – impõe uma nova revisão dos números, agora para um fechamento em torno de 12% de crescimento no mercado de pedra britada e subprodutos. Não é pouco porque, no Estado de São Paulo, teríamos a comercialização em torno de 65 milhões de toneladas, um número que pode ser traduzido em mais de 4,0 milhões de viagens de caminhão em solo paulista ou um volume correspondente àquele de cimento projetado para ser comercializado no país.