Por Daniel Debiazzi Neto -JUNHO, 2022

Encarando cenários desfavoráveis

.......O mundo pertence aos otimistas: os pessimistas são meros espectadores.
(Dwight Eisenhower)

.......Nos seus momentos finais, fluindo pelos seus dias derradeiros, boa parte deles preenchidos por mazelas de tristes memórias, o ano de 2021 se esvai indicando que a esperança continua a sofrer de uma irrefreável e persistente oposição. A disposição de portar um certo otimismo parece não se sustentar nem mesmo diante da queda vertiginosa dos números da pandemia, situação que o país experimenta neste segundo semestre, eis que, resiliente, a pandemia vem nos acenar com a ômicron. Mais do que a décima quinta letra do alfabeto grego, a palavra vem representar no cenário da saúde global um possível novo flagelo e que ameaça deitar por terra a esperança de voltarmos à vida dita normal.

.......Cenário da saúde ameaçador, cenário político pior, porque a dez meses do próximo pleito ele está a oferecer à sociedade a desalentadora polarização de extremos. Nesse cenário, não faltam contingentes de crentes nas renovações das apostas e nas soluções que um e outro realimentam ilusoriamente. No cenário da economia, os especialistas vislumbram uma situação nada favorável para 2022, traduzida por inflação de dois dígitos, taxa de juros alta – e que coloca o país na liderança do ranking mundial de 40 países com juros estratosférico, PIB tendendo a zero, desemprego da ordem de 14,5 milhões, preços das matérias primas ainda em desarranjo geral e crescimento brutal da pobreza. Tudo isso pode ser resumido de forma emblemática e vista na expressão maior da desilusão explicitada, na emigração de 4,2 milhões de brasileiros nos últimos anos, um número diretamente relacionado ao que esses cidadãos buscam e que está escasseando por aqui: prosperidade e esperança, as mesmas razões que trouxeram levas de imigrantes europeus para cá a partir do final do século XIX.

.......Em que pese esses cenários tão desfavoráveis, a cadeia da indústria da construção no Estado de São Paulo – e o próprio setor de agregados - está diante de uma perspectiva diversa, numa espécie de caminhada na contramão daquele que parece ser o rumo dos demais entes federados. Há razões, aqui, para um certo otimismo. E isso se constata quando, há poucos dias, num balanço feito por ao menos nove entidades da cadeia da construção, é exteriorizado numa projeção de um 2022 melhor do que o ano que se encerra, não obstante os indicadores da economia não se mostrarem favoráveis. Alguns representantes dos diversos segmentos mostraram em reunião do Departamento da Indústria da Construção – DECONCIC/FIESP que, dentre outros, no setor imobiliário se deu nestes dois últimos anos o maior número de lançamentos desde 2016; as empresas de Engenharia e Arquitetura com previsão de forte crescimento de contratações de projetos no segundo semestre e a indústria de materiais de construção sinalizando com crescimento de até 4% em relação a este ano.

.......Ainda que na construção civil se verifique alguma desaceleração, é na infraestrutura que estarão concentrados os mais importantes investimentos em São Paulo, conforme mostrou o representante do SINICESP – Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de São Paulo. O DER, com o “Programa de Vicinais” (fases I a IV – investimentos da ordem R$3,3 bilhões contratados; fases V e VI em andamento e fase VII, recém-publicada) e obras de conservação-duplicação de rodovias (investimentos de até R$600 milhões) se constitui num importante alavancador das obras de infraestrutura. A obra do contorno de Caraguá-São Sebastião (investimentos de R$1,5 bilhão e término previsto em 26 meses, já contratada) e o trecho Norte do rodoanel (licitação prevista para o 1.°semestre de 2022), com investimentos também de R$1,5 bilhão, completam um quadro de boas perspectivas na área de infraestrutura. Acompanhando esse crescimento, o setor de máquinas e equipamentos, já bastante aquecido nos últimos dois anos, prevê crescimento de 13%, com vendas de até 35 mil máquinas da “linha amarela”.

.......O setor de agregados, nesse cenário favorável – e com base nesses projetos, no “Plano São Paulo” do governo e na construção civil - prevê um crescimento da ordem de 10% nos volumes comercializados em relação ao ano 2021, algo em torno de 63 milhões e 89 milhões de toneladas a comercializar de brita e areia, respectivamente. Números expressivos, que projetam um otimismo moderado e que permitirá um adequado aproveitamento da capacidade instalada da indústria de agregados.