Construindo o novo normal - desempenho do setor da construção civil em 2021
.......O ano de 2021 iniciou-se trazendo uma forte expectativa de crescimento e recuperação do PIB. Ainda vivendo em plena crise sanitária, a adaptação da sociedade e da economia à essa nova realidade afetou toda a atividade econômica, trazendo impactos significativos para o setor de agregados da construção civil.
.......Porém, com o passar dos meses, essa expectativa inicial não se concretizou como o esperado. Os impactos da desaceleração econômica foram percebidos de forma mais acentuada, refletindo na capacidade produtiva de insumos básicos e provocando, por consequência, a escassez de produtos essenciais para a atividade industrial.
A falta de insumos, traduzida como o reflexo da pressão da demanda sobre a oferta, impulsiona o nível de preços, como pode ser verificado nos últimos meses, refletindo no comportamento dos índices inflacionários.
Em meados do ano, o nível de desemprego teve um acréscimo acentuado, a inflação se elevando e, por isso, verifica-se um menor crescimento econômico no país. O aumento nos juros torna importante instrumento para o combate da inflação.
Apesar de todos esses fatores, o setor da construção civil manteve um importante ritmo de atividade sendo atribuído papel relevante para a criação de novos postos de trabalho.
Se em 2020, o setor já havia apresentado um crescimento expressivo, de 10% em relação ao ano anterior, a expectativa para o ano de 2021 traçava um cenário de crescimento do PIB. Porém, o que se pode constatar é que o desempenho do setor ficou abaixo dessas expectativas.
Parte da explicação para esse comportamento passa pelo aumento dos preços dos materiais e equipamentos utilizados na construção civil. No primeiro trimestre do ano, a variação do Índice Nacional da Construção Civil, da Fundação Getúlio Vargas, chegou a acumular uma variação de 28% considerando os últimos 12 meses.
No momento atual, pode-se verificar uma desaceleração nessa elevação dos preços. Frente aos 28% acumulados de abril de 2021 em relação aos 12 meses anteriores, o INCC acumulou uma variação positiva de 14%, considerando os 12 meses que antecederam ao mês de novembro de 2021.
Se o aumento dos preços e o risco de oferta insuficiente de materiais e equipamentos representam uma sombra pairando sobre o cenário de 2021, a correlação existente entre o nível de desempenho do setor da construção civil e o PIB fornece subsídios para outra interpretação: o aumento de demanda constatado no setor imobiliário sinaliza para a existência de uma demanda represada e um baixo nível de estoque de unidades disponíveis.
Assim, as incertezas construídas durante o ano terminaram por postergar um crescimento mais acelerado, mais alinhado com a expectativa existente nos primeiros meses de 2021.
O aumento da inflação e a consequente elevação nas taxas de juros serviram para retardar o crescimento esperado, já que o aumento dos preços e a elevação dos custos de financiamento acabaram por reduzir a atratividade do setor.
Com os juros mais elevados, os financiamentos ficam mais caros, afetando diretamente a demanda em toda a cadeia produtiva. Essa redução de investimentos na construção civil reflete diretamente na produção dos agregados e na produção e comercialização de areia.
No mercado da construção civil, a areia apresenta o papel fundamental, sendo utilizada na produção de concreto, cimento, argamassas, filtros e abrasivos, utilizada em base de pavimentos de concreto e asfalto e demais aplicações relevantes.
Diante dessa notória relevância, pode-se deduzir que todo o cenário construído para avaliação do contexto econômico do setor da construção civil passa pela avaliação da produção de areia, já que é insumo essencial nesse contexto.
Se o mercado da construção civil apresentou um desempenho de destaque durante o ano de 2021, o que ocorreu no mercado de produção e comercialização de areia não poderia ser diferente: o desempenho esperado para o ano também não concretizou as expectativas do início do período, mas, mesmo assim, apresentou um crescimento significativo, impulsionado pela adaptação da realidade ao chamado “novo normal”.
Nesse sentido, em resposta ao ritmo imposto pela construção civil, o setor de produção e comercialização de areia demonstrou um forte crescimento em relação ao ano de 2020.
De acordo com os dados disponibilizados pela Agência Nacional de Mineração, a comercialização de areia em 2021 apresentou um crescimento de 30% em relação ao ano anterior, ou seja, o valor projetado para o ano (com base nos dados de janeiro a novembro de 2021) totalizaram R$ 2,2 bilhões, frente a R$ 1,7 bilhão constatado no ano de 2020.
Porém, da mesma forma que todo o certo registrou um arrefecimento a partir da segunda metade do ano, a produção de areia acompanhou esse cenário e demonstrou uma desaceleração no segundo semestre.
De qualquer forma, ainda que se tenha percebido uma redução no nível de atividade, o setor ocupou posição de destaque no terceiro trimestre do ano apresentando desempenho médio superior aos demais setores da economia.
A pressão inflacionária combinada com a alta na taxa de juros refletiu diretamente no desempenho do setor, que, de certa forma, busca se estabilizar para sustentar um crescimento acelerado baseado na demanda reprimida no mercado imobiliário e nos Programas de Parceria de Investimentos na área de obras de infraestrutura e saneamento básico do governo.
Todos esses fatores impactam o estabelecimento de um ponto de equilíbrio no mercado, capaz de subsidiar o planejamento estratégico no médio prazo e viabilizar o investimento (ou desinvestimento) em operações e projetos de expansão.
As melhorias nos índices de confiança com a expectativa de crescimentos relativos ao cenário da crise sanitária poderão impulsionar a atividade econômica para trazer maior equilíbrio entre a oferta e demanda de insumos, reduzindo a pressão inflacionária.
A medida em que se estabilizam esses fatores, o nível da economia deverá voltar a desempenhar em níveis elevados, puxando a retomada da economia e, por consequência do PIB.
Essa é a tendência apontada pela variação do INCC, demonstrando uma desaceleração nos custos dos materiais e equipamentos no setor da construção civil. Esse importante indicador sinaliza um crescimento mais acentuado nos próximos 12 meses
Em tempos de instabilidade econômica, pode-se dizer que o setor apresentou a resiliência necessária para sustentar a base de toda essa cadeia produtiva. O setor de produção e mineração de areia demonstra, mais uma vez, a relevância de um mercado descentralizado e próximo ao mercado consumidor, seja ele direto ou indireto, possibilitando minimizar os efeitos de uma economia global em fase de estabilização.
Fontes:
Agência Nacional de Mineração (ANM): Arrecadação da Compensação Financeira pela Exploração
Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC): Banco de Dados
Fundação Getúlio Vargas: Índice Nacional da Construção Civil (INCC/FGV)
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
Sindicato Nacional da Industria do Cimento (SNIC)