Mulheres e Mineração: Um longo caminho na relação

.......Quantas mulheres você conhece que trabalham no setor da mineração de agregados? E em quais áreas?

.......Em 1926, Emily Hahn foi a primeira mulher a ingressar profissionalmente de maneira reconhecida no setor da mineração. Após se formar na faculdade de Engenharia de Minas, provou ao seu professor que estava errado quando disse: “A mente feminina é incapaz de lidar com os princípios da mecânica, da alta matemática ou com qualquer fundamento do ensino da mineração”. Seu pioneirismo com certeza impulsionou e incentivou a luta de outras mulheres. Essa luta na mineração buscou uma equidade de gêneros e melhorias no tratamento da mulher nas empresas do setor.

.......É difícil mensurar e até mesmo encontrar fontes para compor essa matéria. Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração — IBRAM, em 2021, as mulheres representam 15% dos trabalhadores na mineração, número este que representa um acréscimo de 2% em relação ao ano anterior.

.......O IBRAM em parceria com o WIM — Women in the mining publicou o Plano de Ação com Avanço das Mulheres na Indústria de Mineração brasileira, citando algumas estratégias, como: práticas inclusivas para oportunidade de carreiras; ambientes de trabalho seguros do ponto de vista físico e psicológico; entre outros. Uma das estratégias se refere ao investimento na educação de mulheres para serem incentivadas a atuarem na mineração; outra, a termos e símbolos utilizados nos ambientes operacionais que incluam a presença feminina; há ainda, o que trata sobre cuidar das mulheres nas comunidades onde as atividades minerárias estão inseridas. Acompanhe o relatório no link https://wimbrasil.org/indicadores-wim-brasil/.

.......Marlene Aparecida da Costa, gerente de contas da empresa Pilar Química, conta a sua experiência na indústria de explosivos e como se relaciona no setor. “Trabalho há 28 anos na área de explosivos, iniciei no escritório da indústria química, fazendo e servindo café e com limpeza dos escritórios.

“As oportunidades foram aparecendo e comecei nas rotinas administrativas, comercial interno e externo, as programações de desmontes, as programações de explosivos, as soluções aos clientes na área de explosivos, acessórios e pós-venda.”

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.......Marlene conta das dificuldades que encontrou no setor, “os homens pensam que por ser mulher não entende de explosivo, percebo o preconceito em vários clientes que pedem para falar com homens. Já ouvi comentários desnecessários e até mesmo de colega da empresa tentando denegrir o meu trabalho ou a minha competência profissional”. Para Fernanda Barros, geóloga e sócia-proprietária da consultoria RGB Serviços Geológicos, existe um preconceito do setor com as mulheres, que se reflete na preferência por homens nos processos de contratação.

“Acreditam que as mulheres não estão preparadas para a atividade de campo que a mineração pode exigir”.

.......“Sinto-me diariamente desafiada por atuar no setor de mineração de agregados. Trata-se de um setor muito dinâmico que demanda um vasto conhecimento técnico em diversas áreas, com destaque para geologia e engenharia de minas, bem como direito ambiental e mineral. Ser uma profissional mulher no universo da mineração de agregados não implica em restrições ou dificuldades. Os desafios que encaramos são os mesmos dados aos homens, porém a dedicação, a forma de resolver os problemas e o jogo de cintura é que talvez sejam o nosso diferencial. ” — Afirma Fernanda.

.......Com vinte anos na área administrativa da empresa Contil Industria e Comércio, Juliana Biamino Borges, diz que na questão administrativa dificilmente um homem aceita uma situação mais severa por uma mulher. “Percebo que cada vez mais as mulheres estão conquistando o seu espaço, ainda nos deparamos com discriminação de gênero, por exemplo: colaborador que não aceita ser chamado atenção por uma mulher, motoristas de terceiros que acabam descumprindo uma regra interna da empresa, e precisa ser advertido, além de não aceitar, vira e deixa falando sozinha. Porém, nas mesmas situações, quando o encarregado é chamado, eles escutam e não retrucam.”

.......A falta de representação feminina no setor da mineração não é uma questão de falta de competência ou prejuízo econômico. Dado o atual quadro de pouca representatividade, é necessário que se tomem medidas no próprio ambiente corporativo, buscando a obtenção de maior representatividade, diversidade e equidade de gênero. Além de incentivar a atuação feminina na empresa, deve-se promover debates e oportunidades, dentro e fora do ambiente institucional, com estratégias inclusivas para as mulheres e criação de cursos na comunidade para formação de mulheres e posteriormente estimular a contratação de profissionais do sexo feminino pelos mais diferentes entes do setor mineral.